
Conservação e cuidados na Administração da NP individualizada
Jordana Ruffier Pagani
No hospital, o farmacêutico é responsável pela manutenção da qualidade da Nutrição Parenteral (NP) até a entrega ao profissional responsável pela administração, devendo realizar o recebimento, a conferência, a correta conservação e, a dispensação da bolsa NP para a enfermagem. ¹⋅²
A dispensação e a administração de NP são processos complexos, que podem ser realizados em diferentes locais, da unidade de terapia intensiva ao domicílio, dependendo da habilidade de médicos, enfermeiros e farmacêuticos para reconhecimento, monitorização e prevenção de eventos adversos associados ao processo². Desta forma, é muito importante ter protocolos bem definidos, boa comunicação entre equipes e vigilância constante ao processo².
Fizemos um levantamento de pontos críticos e procedimentos, embasados em recomendações de literatura, para conservação e administração de NP, com o intuito de aumentar a segurança do paciente.
- NO RECEBIMENTO:
a) Verificar a temperatura de entrega das bolsas de NP, no ato da entrega.
– A temperatura de transporte deve estar na faixa entre 2 e 20°C¹⋅².
– O transporte deve ser feito, por no máximo 12 horas1¹⋅², em recipientes térmicos exclusivos, que mantenham a faixa de temperatura e, devem ser protegido de intempéries e da incidência direta de luz solar¹⋅².
b) Conferir o rótulo, de cada bolsa de NP, com a respectiva prescrição médica.
– Veja os itens obrigatórios em “Rótulos”.
c) Verificar a integridade da bolsa.
– Se existe vazamento (ex.: próximo às conexões da bolsa com os tubos de administração e manipulação).
– Se a cor da formulação está correta, de acordo com a prescrição médica:
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- NP sem lipídios:
- Sem vitaminas: incolor e translúcida
- Com vitaminas: amarela e translúcida
- NP com lipídios:
- Sem vitaminas: branco leitoso
- Com vitaminas: leitoso amarelada
- NP sem lipídios:
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– A homogeneidade da formulação, se existe material particulado ou separação de fases (tipo óleo em água).
d) Atestar e assinar o Registro de Entrega:
– Aprovado: todos os itens observados estão corretos.
– Reprovado: especificar no documento a observação e, devolver a bolsa ao entregador. Com o entregador presente, comunicar a empresa de manipulação para que tome as medidas cabíveis.
Na Nutrimed, o Plano de Contingência para a Reprovação na Entrega é, realizar uma análise prévia e imediata da ocorrência e, orientar a Farmácia que está recebendo a bolsa. Caso necessário, uma nova bolsa será manipulada e enviada em rota dedicada ao cliente. A ocorrência será registrada na Garantia da Qualidade e a bolsa deverá ser enviada de volta para a investigação de causa raiz. O cliente receberá um relatório de conclusão da ocorrência.
1.1 RÓTULOS
O rótulo da bolsa de NP, obrigatoriamente, deve conter as informações abaixo:
1) Nome do Paciente
. A Farmácia deve utilizar dois identificadores para maior segurança do paciente.
Na Nutrimed, utilizamos o Nome completo e a Data de Nascimento, eles estão presentes em todos os documentos, na bolsa e frascos de amostras, da prescrição até os rótulos e entrega.
2) Unidade hospitalar, no do leito e registro hospitalar
O recebimento de bolsas de NP de outro hospital, acontece. Para evitar transtornos, o local de internação deve ser verificado.
3) Composição qualitativa e quantitativa dos componentes (nutrientes e doses)
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- A NP pode ser composta por macronutrientes (aminoácidos – Aa, glicose e emulsão lipídica – EL) e micronutrientes (vitaminas, oligoelementos e eletrólitos). Cada nutriente é prescrito de acordo com as necessidades nutricionais individuais.
- De acordo com a presença de macronutrientes, a NP pode ser:
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- . De acordo com a presença de macronutrientes, a NP pode ser:. 2×1 (dois em um): contém aminoácidos e glicose, sem lipídios.
. 3×1 (três em um): contém os três macronutrientes (Aa, glicose e EL)
- As doses dos macronutrientes, no rótulo, são descritas em grama (g).
- As doses de eletrólitos, são apresentadas em mEq e, mMol para o fósforo.
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A Nutrimed utiliza os produtos nas concentrações abaixo e, por medidas de segurança padronizamos apenas UMA concentração de glicose (50%) e, uma concentração para cada eletrólito. Evitando erros por troca de produtos similares, aumentando a segurança do processo.
4) Osmolaridade
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- Limite para acesso venoso periférico: < 900 mOsm/ L.2
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5) Via de acesso
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- A NP é administrada direto no sistema circulatório, através de acesso venoso por via periférica ou via central.
- O acesso venoso é determinado pelo médico, baseado em fatores como a condição do paciente, a composição da NP, a osmolaridade final, o tempo em NP, entre outros.
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A via de administração está no rótulo. Verifique!
6) Volume total
7) Velocidade de infusão
8) Data e hora de manipulação
9) Prazo de validade
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- A validade da NP individualizada é de 48h, após a manipulação¹.A data e o horário de manipulação estão contidos no rótulo. Cheque!
- O tempo máximo de infusão é de 24h para NP e, de 12h para infusão de emulsão lipídica em separado².
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10) No sequencial de controle
Trata-se do número de registro da prescrição/ bolsa de NP, importante para a rastreabilidade.
11) Condições de temperatura e transporte
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- Transporte: temperatura entre 2 e 20°C, por até 12h¹⋅².
- Conservação: sob refrigeração entre 2 e 8°C, em geladeira exclusiva para medicamentos, com termômetro, monitoramento e registro de temperaturas¹⋅².
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12) Nome e CRF do farmacêutico responsável técnico.
2. NA CONSERVAÇÃO
- Sob refrigeração, em geladeira exclusiva para medicamentos, com termômetro, monitoramento e registro de temperaturas¹⋅².
- Conservar entre 2 e 8ºC, por, no máximo 24h¹⋅².
- Manter a bolsa de NP na embalagem durante a conservação.
3. NA ADMINISTRAÇÃO
Por se tratar de medicamento de alta vigilância, a instalação da NP deve seguir recomendações de boas práticas e normas institucionais.
O rótulo da bolsa de NP da NUTRIMED possui uma tarja vermelha com os dizeres “MEDICAMENTO DE ALTA VIGILÂNCIA”. O objetivo é o de alertar e auxiliar na identificação visual das equipes nos hospitais e homecare.
A conexão e a desconexão de NP são atribuições exclusivas do enfermeiro, sendo o responsável pela instalação e retirada da NP, bem como, pelo processo de educação permanente da equipe de enfermagem que presta o cuidado a pacientes sob esta terapia, buscando prevenir, detectar e agir sobre os possíveis eventos adversos¹⋅².
- A NP deve ser infundida em temperatura ambiente climatizada (15°C a 30°C)².
Deve ser retirada antecipadamente da refrigeração, para ser administrada à temperatura ambiente.
- É proibido aquecer a bolsa de NP (ex.: banho Maria, microondas), sob grande risco de instabilidade da formulação. A NP é sensível ao calor, acelerando a sua degradação.
- Em uma bancada, previamente higienizada, colocar a bolsa de NP por 60 a 90 minutos², de acordo com protocolo da instituição, para atingir a temperatura ambiente. A embalagem da bolsa de NP só deverá ser removida no momento de uso.
Na prática, o tempo necessário, após retirada da geladeira, para atingir a temperatura próxima de 15 graus vai variar de acordo com o volume da formulação e a temperatura ambiente. O uso do termômetro infravermelho pode ser uma opção para aferição da temperatura externa da bolsa².
- Verificar todas as informações do rótulo (ex.: nome do paciente, data de infusão, osmolaridade, via de acesso venoso etc.).
A recomendação para administração de NP por acesso venoso periférico é de que a osmolaridade da NP não ultrapasse 900 mOsm/L e, que não seja usada por período superior a 14 dias².
- Checar a Velocidade de Infusão do rótulo da Prescrição NP, com a velocidade de infusão da Prescrição Médica para Enfermagem.
Podem estar diferentes devido a aproximações, levando ao término precoce da infusão.
Importante manter as infusões de NP na taxa prescrita – evite interrupções para cuidados de rotina ou ajustes para infusões fora do cronograma.
- Verificar o aspecto da bolsa de NP: cor, presença de material particulado, separação de fases.
Caso algo esteja fora do padrão, NÃO administrar a NP. Avisar à Farmácia da unidade e ao médico responsável. A empresa de manipulação deverá ser contactada para verificar e, enviar nova bolsa, se necessário.
- Seguir os protocolos de administração de NP da instituição.
- A NP deve utilizar lúmen exclusivo².
Garantir que não sejam infundidos na mesma via de administração da NP, outros medicamentos ou nutrientes, sem autorização formal da EMTN.
- Para pacientes prematuros é recomendado a fotoproteção em todo o conjunto de infusão [5,6,7].
- Para pacientes adultos ainda não existe consenso sobre a fotoproteção [2,5].
Alguns dos componentes utilizados na NP são fotossensíveis, podendo ocorrer reações de degradação, redução ou oxidação pela exposição à luz direta (ex.: Aa, EL, vitaminas) [2,6,8]. A intensidade desta foto-reação dependerá de fatores, como tempo de infusão, concentração dos aditivos, temperatura de exposição, pH final da formulação, tipo e tamanho do envase e equipo [2,8]. É importante que as bolsas de NP não fiquem expostas diretamente à luz e a opção quanto ao uso do dispositivo de administração fotoprotetor fica a critério das equipes de Terapia Nutricional, considerando potencial risco de degradação de vitaminas e peroxidação lipídica [2,8].
- Recomenda-se o uso de filtro de linha para infusão de NP [1,2,7,8], para reduzir o potencial de dano ao paciente devido a partículas, microprecipitações, microrganismos e embolia gasosa [1,2,7,8].
Utilizar:
. filtro de 0,22 micra para NP 2×1 [2,7,8]
. filtro de 1,2 micra para NP 3×1 [2,7,8]
. filtro 1,2 micra para emulsão lipídica infundida em separado,[2,7,8]
- Colocar o filtro o mais próximo possível do paciente no sistema de administração [2,7].
- Trocar os filtros (e os conjuntos de administração) a cada nova bolsa de nutrição parenteral [2,7].
- Remover o filtro, caso apresente oclusão e o substituir por novo filtro [2,7].
- Não permitir que mistura não filtrada continue sendo infundida [2,7].
- É proibido introduzir aditivos na bolsa de NP após manipulação (bolsas individualizadas) ou produção (bolsas industrializadas)¹‘².
- Observar a integridade da NP durante toda a infusão.
- Reconhecer uma formulação de NP comprometida.
. Medidas de controle de infecção;
. Monitoramento;
. Complicações e solução de problemas;
. Término da terapia;
. Educação paciente.
- Recomenda-se utilizar bombas infusoras de controle de fluxo volumétrico, com sistema que impeça o fluxo livre².
- A desinfecção da bomba de infusão, superfície e painel, deve ser realizada a cada 24 horas e, sempre quando trocada para uso em outro(s) pacientes(s)².
Os procedimentos devem ser alinhados com o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) Institucional, utilizando-se produtos conforme recomendação do fabricante².
- A manutenção das bombas infusoras deverá ser realizada pelo departamento de engenharia clínica da instituição, anualmente e com registros².
As “manutenções preventivas” seguem a recomendação de itens (inspeção visual, análise da bateria, sensores e alarmes, teste de segurança elétrico e de desempenho) a serem verificados de acordo com as orientações dos fabricantes².
- É fundamental que se tenham protocolos para operação segura de bombas de infusão, equipe treinada e que as organizações de saúde adquiram equipamentos adequados e em quantidade suficiente para cada terapia².
O objetivo é o de reduzir erros associados à fragilidade do processo, como falha na programação da bomba, ocasionando taxa e tempo de infusão incorretos².
O êxito da terapia nutricional parenteral necessita não somente de tecnologia, mas também de processos bem alinhados e comunicação entre as equipes.
As recomendações apresentadas são pautadas em evidências, mas é primordial o entendimento de que as decisões clínicas são soberanas, contemplando as condições clínicas atuais e circunstâncias individuais de cada paciente.
Referências:
- Portaria no 272, de 08 de abril de 1998, SNVS/ MS. Regulamento técnico para a prática de nutrição parenteral.
- Matsuba CST, Seroa LF, Pereira SRM, Barbosa JAG, Corrêa APA e Antunes MS. (2021). Diretriz BRASPEN de enfermagem em terapia nutricional oral, enteral e parenteral. BraspenJ, 36(3), 1-62. Disponível em: https://www.braspen.org/_files/ugd/66b28c_8ff5068bd2574851b9d61a73c3d6babf.pdf
- Guenter P, Worthington P, Ayers P, Boullata J, Gura K, Marshall N et al. Standardized Competencies for Parenteral Nutrition Administration: The ASPEN Model. Nutrition in Clinical Practice, 2018 (33)2:295-304.
- Boullata JI, Gilbert K, Sacks G, Labossiere RI, Crill C, Godau P, Kempf VJ, Mattox TW, Plogsted S, Holcombe B and the American Society of Parenteral and Enteral Nutrition. ASPEN Clinical Guidelines: Parenteral Nutrition Ordering, Order Review, Compounding, Labeling and Dispensing. JPEN. 2014; (38)3:334-377.
- GUIA PRÁTICO DE ATUALIZAÇÃO da Sociedade Brasileira de Pediatria. Recomendações para Nutrição Parenteral em Recém-nascidos Pré-termo: Consenso dos Departamentos Científicos de Suporte Nutricional e Neonatologia. Nº 108, 09 de Outubro de 2023. Departamento Científico de Suporte Nutricional, Departamento Científico de Neonatologia, Sociedade Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: SBP, 2023. 20 f.
- Robinson D T, Ayers P, Fleming B, et al. Recommendations for photoprotection of parenteral nutrition for premature infants: An ASPEN position paper. Nutr. Clin. Pract. 2021; 36:927-941. https://doi.org/10.1002/ncp.10747.
- Ayers P, Adam S, Boullata J, et al. ASPEN parenteral nutrition safety consensus recommendations. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2014; 38(3): 296-333.
- Update on the use of filters for parenteral nutrition: na ASPEN Position Paper. Nutr Clin Pract. JPEN 2021;36(1):29-39
- Boullata JI; Mirtallo JM; Sacks GS et al. Parenteral Nutrition compatibility and stability: a comprehensive review. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2022; 46:273-299.